O Gaúcho da Temakeria

Um breve perfil de Jorge Chiesa: O Gaúcho da Temakeria

Raphael Mota
3 min readSep 11, 2021
Imagem de OpenClipart-Vectors por Pixabay

Minha primeira reação ao chegar no local era a certeza de estar no local certo. A entrada no estacionamento que possuía um local reservado para cavalos alertava para o lugar de atmosfera mais diferente da região.

Ao chegar no tapete de entrada, no mesmo momento a porta foi aberta por um funcionário vestido com uma tradicional vestimenta gaúcha.

O funcionário me levou a uma mesa separada e me disse que o chefe já vinha.

Nesse meio tempo, me dediquei a olhar a minha volta e entender o espaço. Uma luz clara iluminava o ambiente, junto de pinturas nas paredes de samurais com espadas em planícies de uma vegetação conhecida como pampa.

Das duas televisões ligadas, uma transmitia um agitado leilão de gado e a outra um colorido anime japonês cheio de batalhas.

A chegada do chefe, conhecido como Gaúcho, não era desapercebida. Um homem levemente acima do peso, vestido com um lenço vermelho no pescoço e chapéu vem ao meu encontro.

Ele me cumprimenta com um aceno de cabeça e senta a minha frente já contando como foi sua movimentada manhã e sobre quão feliz estava com a reportagem sobre seu sonho realizado, como ele chama carinhosamente o seu negócio.

Pergunto da sua origem e como ela está ligada a ideia que teve e concretizou naquele espaço.

Com o sotaque carregado ainda não perdido, ele pede no início da conversa para o garçom trazer um “chimasaquê” , uma mistura de Chimarrão com Saquê, um de seus produtos mais famosos, para molhar a garganta e começar a história.

Jorge Fidelis Chiesa, é Gaúcho e aparenta os 54 anos que possui. Emigrou da sua terra em busca de oportunidades e rodou o país até se alocar no interior de Goiás, onde vive. O nome “Gaúcho” não necessita de mais explicações para quem vê sua presença e o ouve.

Com a vontade de empreender, buscava algo diferente do estereótipo que carregava pela sua origem: A de que deveria abrir uma churrascaria. Ele imaginou que poderia fazer certo sucesso, mas a fuga do usual era um mantra da sua vida até ali e o estereótipo regionalista não o nomeava por completo.

Dessa forma tentou aliar suas paixões, as raízes gaúchas e a chamada comida japonesa que conheceu nas suas andanças nas décadas passadas. A ideia inicial do negócio era transformar uma casa abandonada num local similar a uma churrascaria tradicional, com fachada baixa, estacionamento amplo na frente e letreiros luminosos grande, mas que servisse temakis e peixe cru com cream cheese.

Nos primeiros meses, enfrentou suas primeiras dificuldades já que desavisados entravam no local com o desejo de comer uma suculenta carne de boi e se desapontavam com o cardápio nas mesas. Alguns ficavam, mas muitos iam embora desolados e afirmando que ficariam se o local tivesse opções mais casuais do que a comida que tem que comer com palitos.

Esse foi o estopim para ele e sua equipe criar soluções como a “Temapikanha” e o “Temakupim” de cortes de bois premiados até o “Temakialho” que simula o pão de alho tradicional. Além da bebida “Chimasaquê” já citada, drink patenteado em seu nome e marca.

Esta foi a virada para que seu negócio se tornasse um fenômeno cult e estourasse nas redes sociais. Pessoas de todo o Brasil hoje viajam para conhecer seu negócio único e tirar fotos mostrando que foram até lá.

O Gaúcho da Temakeria credita o seu sucesso ao amor e ao respeito que transmite no que faz. Ele diz que até procura entender as críticas que recebe de movimentos conservadores tanto de CTGs (Centro de Tradições Gaúchas) da Região, como de descendentes de japoneses. Mas credita os comentários adversos, a costumes antigos que não vê mais lugar nos dias de hoje.

Por fim, ao questioná-lo para que deixasse uma mensagem para os que desejam assim com ele, fugir do usual, ele diz uma frase de difícil entendimento e que praticamente só ele interpreta com um bom conselho:

“Se você persistir e procurar bem, até no fundo da grota, você pode encontrar um Temaki”

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Raphael Mota

Apenas alguém que come melão com molhos estranhos e gosta de escrever. Contato em: raphaeduardomota@gmail.com