O CEO Caminhoneiro

Um breve perfil de Cláudio da Silva, O CEO Caminhoneiro

Raphael Mota
3 min readSep 18, 2021
Foto por Gabriel Santos na Unsplash

Esta que seria minha primeira entrevista a 80km/hora seguia num ritmo realmente diferente. O motorista, um homem corpulento que praticamente se mesclava com seu instrumento de trabalho tinha trato afável e simples.

O acerto para esta entrevista, apesar da posição de CEO não foi por meio de assessores ou secretários e sim direto no seu celular. E nada de email ou rede social me avisaram pessoas próximas. Ligações tradicionais era a forma de contato.

O contato por telefone foi rápido e seguiu por recusas dos locais que sugeri para conversarmos. Por fim, chegamos na solução preferida do entrevistado, para que eu o acompanhasse em uma viagem que iria fazer atravessando 2 estados em uma entrega.

Na chegada de um de seus estacionamentos, procuro o caminhão vermelho que ele havia me indicado que estaria. Encontro o caminhão vermelho com ar antigo mas com a manutenção aparente em dia. Na traseira há uma típica frase de caminhoneiro “Não jogue espinhos na estrada. Na volta, você pode estar a pé”. Recebo um breve aceno e pulo para entrar no veículo.

Na verdade, a aparência e a postura de Cláudio em um primeiro momento em nada é a imagem que se espera, ao menos em capas de portais de negócio, do líder de um dos maiores conglomerados de transporte do Brasil e que se estima ser um dos homens mais ricos do país.

Cláudio da Silva, se desemboca a falar sobre as nuances da rodovia que estávamos e sobre o quanto ela mudou nas suas idas e vindas. Sabe de cor o caminho e não necessita de algum GPS ou dispositivo eletrônico aparente. Ele aponta para sua cabeça e diz que está tudo estocado ali.

De origem humilde, é caminhoneiro desde que se lembra como gente. Buscou fretes independentes em postos de gasolina e paradas pelo país, por vários anos até que teve a sacada de unificar o transporte de frete a um preço justo com motoristas de confiança.

Esse movimento, aliado a sua boa reputação elevou sua pequena ideia a um grande movimento de procura de transporte, em que a empresa criada no seu nome se tornou uma das referências do setor. Isso tudo, sem que parasse de fazer o transporte de cargas e não habitasse em escritórios ou salas de reuniões.

Essa era a condição, do chamado CEO caminhoneiro. Poder tomar decisões na estrada e manter a sua vida.

Após 2 horas de viagem paramos numa parada de estrada onde havia vários caminhões com o logo da empresa de Cláudio. Apesar de todo o poder que entendi que ele movimenta, nenhum dos outros motoristas parados ali correram até ele para pedir aumentos ou reclamar de algum problema. Ele não é reconhecido e parece confortável com isso.

Na continuidade da viagem, pergunto sobre a sensação de ser anônimo em sua própria empresa e meio de trabalho. Ele me responde que não é sobre ser anônimo é sim sobre continuar sendo ele. Nunca teve a vontade de ser capa de revista ou ser estrela julgadora de realities shows de empreendedores.

Nem participar de reuniões com engravatados usando termos em inglês inventados na semana passada discutindo números que para ele não tinha importância. Para ele, viver era dirigir por aí e no final do dia voltar para casa e comer um rango com sua patroa.

Apesar disso, em suas palavras, não prega o desprendimento com dinheiro ou a luta contra o perverso consumismo do mundo porque na verdade não se importa. Essa era a decisão e modo de vida dele.

O principal é que ele se importa com o seu bem-estar e por isso continuar a rotina do que sempre fez na vida é o que mantém animado e energizado.

Ao se aproximar das últimas curvas do nossa viagem e entrevista, pergunto sobre uma última citação que o guia em sua vida para inspirar os que irão nos ler e ele me fala a seguinte frase estacionando o veículo e a conversa:

“Vitamina de motorista é poeira de estrada”

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Raphael Mota

Apenas alguém que come melão com molhos estranhos e gosta de escrever. Contato em: raphaeduardomota@gmail.com