Jurandir, conhecido vendedor a domicílio, morreu sob a luz do luar.

Um conto clichê

Raphael Mota
2 min readMay 22, 2022

Jurandir, honesto trabalhador, revendia quitutes mineiros em sua velha bicicleta. De jeito calmo e amigável, era querido por todos e recebia diversos cumprimentos nas suas idas e vindas diárias aos seus clientes.

No almoço, costumava parar para comer no restaurante de Dona Maria. Comia quieto, junto do característico farto prato dali, sem pressa, observando os montes verdes no horizonte.

Inclusive esta foi sua rotina no dia anterior do acontecimento, em que após uma manhã de entregas, almoçou uma bela costelinha de porco, junto de um delicioso tutu de feijão com uma couve desfiada. Recebeu ali mesmo no restaurante, a que seria sua sua última encomenda, uma leva de pães de queijo, para entregar no final da tarde na região do mirante da cidade.

Assim foi, rumo a sua humilde residência, buscou o pedido com sua esposa, deu um beijo nela e partiu. Seguiu seu caminho até o mirante, acompanhando aquela que era a rua mais inclinada daquele povoado. Haja perna para subir aquele morro.

Chegou ao topo. Ninguém, uai.

Pá!

Um trem pesado bate em sua cabeça. Desmaio.

Jurandir acorda horas depois, amarrado na beira do precipício do mirante com 3 homens em sua frente. Reconhece um deles, como o marido de Dona Maria, que o acusa de comer quieto não só a comida dela. Leva socos, chutes e é questionado sobre suas últimas palavras.

Jurandir faz juras que nada fez e proseia sobre como a acusação é falsa. Olha para cima em direção à lua cheia e implora para um poder maior salvá-lo.

Assim foi, que Jurandir, conhecido vendedor a domicílio, morreu sob a luz do luar, sendo atirado do morro mais alto da cidade, por causa de uma traição não provada.

E nada mais simbólico, ter a lua como uma silenciosa testemunha em seus últimos momentos.
Pois para um mineiro, a lua é um imenso pão de queijo.

Chico Rei, me patrocina (https://chicorei.com/poster/poster-lua-de-mineiro-2712.html)

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Raphael Mota

Apenas alguém que come melão com molhos estranhos e gosta de escrever. Contato em: raphaeduardomota@gmail.com