Esta não é uma retrospectiva de 2020

Mas na verdade é

Raphael Mota
4 min readDec 22, 2020

Fica difícil desassociar qualquer reflexão sobre este último ano sem mencionar algumas palavras-chave repetidas o tempo todo no novo vocabulário das ruas vazias, telejornais e home-offices.

Então por mim e por você, farei o esforço de evitar usar esses termos para ajudar na nossa passagem do ano e não agravar nossa exaustão vocabular (Existe uma expressão para cansaço de palavras?).

Por isso, não pretendo fazer uma retrospectiva padrão sobre 2020.
Interprete da forma que preferir.

Típica ladeira de Minas Gerais. Foto Própria.

O Sambista Cartola disse um dia que o mundo é um moinho. Vou adaptar e afirmar que para mim: o mundo é uma ladeira.
Este ano uma ladeira bem íngreme inclusive.

Alguns anos atrás, com o sentimento cansado de estudante que já tinha feito tudo o que poderia ser possível, ao ter aprendido 3421 equações, lido 789 artigos e inventado músicas para gravar matérias, eu só desejava férias. Que de tão próximas sentia no ar.
E foi ali neste momento de tensão antes da última prova, que iniciei um costume que iria me acompanhar.

Que era simplesmente subir uma ladeira.
Das mais íngremes que as montanhas de Minas Gerais podem permitir.

Esta ladeira, encontrada sem querer, foi uma maneira de encontrar um caminho mais rápido para a aula e não chegar atrasado. Naquele primeiro encontro, uma tentativa totalmente errada já que me perdi e me atrasei mais que o costume. Mesmo assim, gravei esse caminho e escolhei passar por ele antes da última prova do semestre.

Naquele momento, no sofrimento com o relacionamento com essa matéria que não queria me deixar, escolhi o caminho mais longo da ladeira para descansar um pouco a mente e vai talvez procrastinar um tanto.

A subida difícil, para mim, mostrava a persistência necessária para seguir avançando. A passos lentos ou rápidos era possível seguir, agradecer e pensar no que se passou.

Junto da alegria em chegar ao alto com a consciência que houve um esforço para chegar até ali. O que para mim, mesmo que nem todos os objetivos do início foram atingidos, a correria valeu pois pelo menos me trouxe até lá.

Me surpreendi chegando no alto, ao perceber que precisaria enfrentar agora uma descida e notar que as metáforas da minha mente não se encerraram. Veio aliada uma paz junto da noção que a descida íngreme do outro lado necessitava de tanta atenção quanto na subida.

Caso eu me levasse pela ansiedade de chegar e descesse correndo de uma vez, iria cair feio no final. Precisava descer com calma, olhando ao meu redor e ir avançando devagar para chegar onde queria.

Nunca considerei fazer esse caminho como um certo tipo de ritual ou superstição para passar nos desafios, tanto que nem todos deram certo. Era mais um momento de reflexão, reconhecer a jornada até ali e olhar para frente com calma os próximos passos.

Com os próximos passos, procurava não visualizar de cara os próximos 300 passos a frente, mas de início procurar de forma vagarosa o primeiro e o segundo próximo avanço. E assim por diante.

Por fim, nessa caminhada toda, o que eu buscava? O que tudo isso importa para esse 2020? O que 2021 nos aguarda?

Queria eu ter todas essas respostas, nesse relato eu estava só subindo uma ladeira. Imagina então, saber sobre o próximo ano que chega.

E vou te falar que nem devia ter por aqui expectativas para 2021
Mas na verdade tem.

Obrigado todo mundo que subiu essa ladeira de ano e de textos comigo, passando uma pequena parte de 2020 neste espaço.

Acredito que a experiência de cada um foi muito diferente, então estou muito longe de ter a capacidade de abranger todas nesse último ato. Por isso, trouxe um relato pessoal que pode (ou não) falar conosco sobre os últimos 12 meses.
E os próximos 12 meses.

Este ano nesse turbilhão de sentimentos, tivemos por aqui um ensaio sobre risadas virtuais: Como você Ri?, um conto de um segurança de rua esquecido: A História de Seu Alho e um guia sobre troca de Resistência. Houve também uma participação em um concurso que deixei registrado nesse espaço, Triste fim de Maurício Albatroz, um vivaz e incompreendido observador de pássaros e uma breve (Mas acessível e inacabada) Biografia de Guardanapo.
Por fim a saga de 4 histórias dos milionários aleatórios.doc, contendo:
O Milionário Investidor, O Milionário de Auditório, O Milionário Apostador e O Milionário Honesto.

Um 2021 com muita força para todos.

--

--

Raphael Mota

Apenas alguém que come melão com molhos estranhos e gosta de escrever. Contato em: raphaeduardomota@gmail.com