A Monarca do Bambolê

Um breve perfil de Dona Flor, a Monarca do Bambolê

Raphael Mota
2 min readOct 3, 2021

No sol quente do sertão, uma roda de pessoas “giram” em uma veloz sincronia. Os movimentos balançam a região inóspita isolada do restante do Brasil.

Ao chegar no vilarejo, depois de uma viagem de ônibus de 5 horas partindo da da capital do Estado, encontro uma simpática rodoviária que não vê uma nova mão de tinta há tempos.

A partir daí vou em busca de Dona Flor, a Monarca do Bambolê.

Depois de algumas instruções dos locais, caminho em direção ao projeto social Monarcas do Bambolê, onde reside e trabalha todos os dias.

Ao me aproximar observo diversas formas circulares formando o caminho de entrada. A distância, vejo um grupo aparente de pessoas que levanta a poeira do chão com um movimento síncrono. Neste momento, uma mulher sai de uma casa simples com um chapéu na cabeça e 2 brincos de argola.

Nos cumprimentamos e ela indica um banco de técnico improvisado na beira do circuito de treino em que sentamos.

Com um aceno ao local de treino na nossa frente, ela se emociona e me conta como o bambolê mudou a vida dela quando pequena. De origem humilde, teve que trabalhar desde cedo e houve pouco tempo para brincadeiras. Um aro de plástico foi seu único brinquedo por anos, criando o vínculo que a define como pessoa e educadora hoje.

Seu projeto social já impactou 500 meninas e meninos nos últimos 20 anos, com previsão e vontade de chegar para mais pessoas.

Gio, abreviação de Gioconda, que treinava pacientemente ali no dia, conta com um sorriso no rosto do impacto positivo que “bambolear” tem na sua vida.

Ela destaca que sem projeto estaria parada em casa e sem o sonho de representar o seu país em uma futura olimpíada.

Projeto a qual a Monarca do Bambolê encabeça no país e seu grande sonho no momento. Tornar o bambolê um esporte olímpico, com o Brasil como referência e potência.

Já enviou diversos ofícios a gente importante como ela diz, na espera da resposta que ainda não veio. Acredita que o seu esporte tem o mesmo nível de complexidade e competitividade que os já existentes na competição.

“Bambolear”, nas suas palavras é muito mais do que girar no mesmo lugar. É um ato de resistência ao se manter no mesmo lugar com objetivo de manter o movimento. É isso que tenta passar aos seus alunos, resistir e persistir, frente as adversidades que aparecem.

Dona Flor, a Monarca do Bambolê, pede licença, se levanta e diz que precisa ir treinar com a turma avançada que vem ali diariamente. Já longe de mim, ela me chama e segurando um bambolê no alto, o que por um momento incrivelmente circula perfeitamente o sol, ela me grita:

“É preciso girar, para conquistar”

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Raphael Mota

Apenas alguém que come melão com molhos estranhos e gosta de escrever. Contato em: raphaeduardomota@gmail.com