A Floricultora das Flores Finitas

Um breve perfil de Milena Santos, a Floricultora Finita.

Raphael Mota
3 min readSep 25, 2021
Foto por Mohsin K. na Unsplash

Ao colocar o pé na loja, ouço um som de fundo que parece ser a música Flores da banda Titãs.

O ambiente que entro é muito colorido, inicialmente com tons de verde na entrada. Ao avançar no corredor principal no meio do caminho há uma transição da cor principal do verde para o marrom. O ar que respiramos lá dá impressão de ser bem mais puro comparado ao de fora.

Enquanto observo uma samambaia que parece já viver melhores dias, Milena Santos, proprietária do estabelecimento, a quem vim entrevistar aparece com uma vaso de uma Azaleia na mão que diz ser um presente para mim. Agradeço e sou convidado a seguir ela para um mezanino em um segundo andar com vista a toda propriedade.

A engenheira química formada há 15 anos, seguia uma carreira tradicional em multinacionais até que após um Burnout causado pelo trabalho excessivo e uma depressão diagnosticada descoberta após a perda de seu cachorro que faleceu repentinamente, a profissional se demitiu e se retirou para uma colônia agrícola durante 6 meses.

Lá ela criou uma consciência ambiental com o trabalho na enxada e os frutos que colheu. E principalmente aprendeu mais sobre o luto e como precisou aceitar a perda para que sua vida continuasse.

Desse modo, ela identificou um novo propósito para sua vivência na terra e assim buscou aliar os seus conhecimentos de engenheira química e o seu novo gosto adquirido com as flores e plantas.

Dessa revelação surgiu as Flores Finitas da Mi, conta Milena. Sua principal missão era partilhar a mesma revelação que teve com o cuidado com as plantas ao maior número de pessoas.

Nesse ponto, ela me mostra 2 vasos e demonstra como é impossível identificar qual é a planta real e qual é a cópia de polietileno. Sua fórmula ao criar o plástico de suas criações, garante uma veracidade muito real ao seu produto.

Pergunto então, a razão da exposição da samambaia que parecia estar morrendo em uma loja que vendia flores de plástico. Seria para mostrar a efetividade do seu produto?

Pelo contrário, ela me responde. Na verdade, a samambaia é feita do mesmo produto que a Azaleia de plástico na nossa frente. A diferença que é aquela samambaia foi produzida para ter um tempo menor de decomposição.
Ao ver minha reação imediata de confusão, ela explica sobre a principal diferenciação e razão do seu estrondoso sucesso.

A engenheira conta que na busca por colocar em prática sua visão de mundo, ela fez experimentos em que obteve uma fórmula que garante a decomposição precoce do plástico, algo até então não inventado pela humanidade.

Após patentear sua inovadora fórmula que esconde como segredo de estado, ela prototipou suas primeiras flores de plástico que “morriam” para amigas que estavam passando por processos de perdas. Estas amigas repassaram para outras pessoas e assim começou a ser procurada para encomendas.

Questiono se ela foi procurada para repassar a fórmula da sua invenção para bem… salvar o meio ambiente já que os oceanos e florestas estão cada vez mais infestados de plástico que ficarão ali por milhões de anos.

Ela afirma que sim, porém nega que irá repassar sua invenção para o mundo, já que seu propósito é um só e está sendo cumprido ali.

A conversa termina assim repentinamente, com a proprietária se afastando ao afirmar ter outros compromissos em seguida.

Observo a saída dela e ao me levantar presto novamente atenção na música de fundo que se repete continuamente no local e percebo que é na verdade uma versão da música Flores, com o seguinte refrão:

“As flores de plástico que … morrem”

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Raphael Mota

Apenas alguém que come melão com molhos estranhos e gosta de escrever. Contato em: raphaeduardomota@gmail.com